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1 03/07/2015 19:14

Um vídeo divulgado em junho mostra cinco homens trajando macacões laranja sendo conduzidos até uma jaula. Em seguida, um guindaste coloca a jaula sobre o que parece ser uma piscina e a afunda. 

Depois, os corpos das vítimas são retirados da gaiola e empilhados. No dia 1º de julho, bases militares no nordeste da península do Sinai, no Egito, foram atacadas. 

Autoridades confirmaram a morte de ao menos 64 soldados em ações que ocorreram um dia depois de o presidente Abdel-Fattah el-Sissi se comprometer a intensificar a batalha contra terroristas. 

Esses episódios, que em um primeiro momento parecem distintos, compõem o mesmo recado que os terroristas do Estado Islâmico (EI) querem transmitir ao mundo: eles são uma ameaça real e não vão parar até solidificar seu autoproclamado califado – tipo de monarquia baseada em conjunto de leis islâmicas –, como explica ao iG o coordenador do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Mattar Nasser.

"Eles [EI] são uma ameaça concreta principalmente para o Oriente Médio, região com maior número de ataques terroristas do mundo. Na Europa e nos EUA, o objetivo deles é propagar o terror, apenas isso", afirma.

Terror pelo mundo

Em 2014 foram realizados 13,5 mil ataques terroristas, 80% deles no Iraque, Paquistão, Afeganistão, Índia, Nigéria e Síria, de acordo com relatório divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA.

Na soma, 95 países foram atingidos e o número de mortos chegou a 33 mil, quase o dobro do número registrado em 2013, quando houve ao menos 18 mil mortes.

Entre os ataques, um dos mais violentos teve autoria do Taleban, em que extremistas atacaram uma escola militar no Paquistão e mataram 148. O segundo pior foi realizado pelo Estado Islâmico: ao ocuparem Mosul, no Iraque, eles mataram 670 prisioneiros xiitas.

Para o cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM Heni Ozi Cukier, além da conduta bárbara, o grupo leva vantagem também pelos recursos financeiros próprios.

"Eles são uma ameaça maior do que a Al-Qaeda principalmente porque, com recursos como o petróleo, não precisam de apoio de outros grupos", explica.

"Mas o foco deles hoje é expandir seu território. Para isso eles precisam de militantes e, para atrair esses militantes, eles atacam no Ocidente para demonstrar poder. Não há limites para o EI."

Geridos pelo Estado Islâmico

Até agora, os terroristas têm obtido sucesso em expandir seu território. Desde 2014, quando autoproclamaram um califado, o EI já dominou mais da metade do território sírio.

Além de ocupar a cidade de Palmira, eles também controlam vastas regiões de Raqqa e Deir Ezzor, territórios que o Observatório Sírio para os Direitos Humanos estima ser de 95 mil quilômetros quadrados, ou mais de metade da massa de terra síria.

Com a apreensão dos campos de gás de Arak e al-Hail, perto de Palmira, eles também controlam grande parte do fornecimento de eletricidade do país. 

"Somado ao desejo de erguer o califado, os terroristas têm uma ideologia forte contra tudo o que não é islâmico, ou contra tudo o que é ocidentalizado", explica Cukier.

Atualmente, o Estado Islâmico governa as regiões ocupadas como qualquer outra liderança legal: há policiamento nas ruas, coleta de impostos e exploração de petróleo, atividades não muito diferentes das que os habitantes estavam habituados antes da chegada dos militantes, explica Nasser.

"Não dá para dizer que os habitantes ganharam qualidade de vida, mas seu modelo totalitário já é bastante conhecido na região", completa o professor de relações internacionais.

Em Mosul, a maior cidade sob controle dos terroristas, o grupo tem revisto inclusive currículos escolares e até fixou multas sobre a eliminação errada de resíduos.

O site da revista norte-americana "Time" divulgou comunicado do grupo à população onde explicam que "o lixo deve ser colocado em um barril, cesto ou em sacos pretos grandes. Não é para ser jogado fora em uma faixa de terra desocupada e todos os que deliberadamente fizerem isso serão multados em 25 mil dinares [cerca de R$ 70] ou presos, caso se recusem a pagar as multas."

No domínio da cidade síria de Raqqa desde 2013, o EI também adicionou mecanismos de controle social: o Husba, ou polícia da moralidade, reforça o uso do hijab para as mulheres e se certifica de que elas circulem somente acompanhadas de um parente do sexo masculino.

No caso dos homens, se eles forem pegos com uma mulher que não seja a sua ou uma parente próxima (mãe, irmã ou filha), estará sujeito a prisão e pode ser punido com chicotadas.

Escolas tiveram de cancelar disciplinas como filosofia e houve também a inclusão de uma matéria sobre religião, sob os preceitos do EI. Em outros setores sociais, a única mudança significativa é que os funcionários devem interromper o seu trabalho para orar.

Onde o Estado Islâmico pode chegar

Apesar do progresso nessa região, o Estado Islâmico deve mudar sua forma de agir, se quiser continuar conquistando outras áreas e, consequentemente, aumentando seu poder territorial, afirma o cientista político Heni Ozi Cukier.

"Essa violência extrema, agressiva, não é sustentável. Porque eles terão cada vez mais inimigos que tentarão conter seu avanço e poderão gerar rebeliões dentro do próprio Estado Islâmico".

Para Reginaldo Mattar Nasser, o objetivo dos terroristas no Ocidente não é ocupar território, mas sim investir em uma propaganda que atraia jovens para o movimento jihadista e mantenha o status atual do grupo.

"Pode ser comum o ataque de lobos solitários em outros países ocidentais, o que não quer dizer que um líder do Estado Islâmico planejou e ordenou esse tipo de coisa", pondera.

Nas regiões ocupadas pelos extremistas, a imposição do medo acontece de modo corriqueiro. A revista "Time" cita um ativista que fugiu de Raqqa, Síria, em agosto 2014 após os terroristas terem começado a exibir cabeças de reféns decapitados em uma praça. "Eles estão sempre ansiosos para matar", disse. "Eles tentam controlar as pessoas por meio do medo. "

Além disso, a coalizão formada por cerca de 30 países e liderada pelos EUA para conter o avanço do grupo tem trazido problemas para o grupo.

Em fevereiro, os terroristas perderam uma importante batalha na cidade síria de Kobane, retomada por forças curdas com ajuda dos Estados Unidos

. Durante discurso no Congresso, Obama elogiou a vitória e afirmou contar com apoio da oposição moderada na Síria para impedir que o grupo continue agindo na região. 

"Esse tipo de revés é muito importante. O Estado Islâmico está em guerra com os EUA e os países que querem combatê-lo. Nas batalhas, acaba perdendo militantes, armas e esconderijos", diz Cukier.

Tribuna da Bahia

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