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1 23/04/2018 16:40

A Agência Nacional do Cinema divulgou a pesquisa “Diversidade de Gênero e Raça nos Lançamentos Brasileiros de 2016”, realizada pela Coordenação de Monitoramento de Cinema, Vídeo Doméstico e Vídeo por Demanda (CCV) do órgão, que revelou o abismo na identidade de gênero e raça existente na produção audiovisual brasileira: 75,4% dos filmes lançados no respectivo ano foram dirigidos por homens brancos.

Segundo a mesma pesquisa, os homens negros assinaram apenas 2,1% das obras; 19,7% dos longas-metragens foram produzidos por mulheres brancas e 0,0% por mulheres negras. Em termos de direção com recorte de gênero e tipo de obra, 100% das animações foram produzias por homens. Entre os documentários, 29,5% foram produzidos por mulheres, 63,6% produzidos por homens e 6,8% por gêneros mistos. Considerando as produções de ficção, 15,5% foram dirigidos por mulheres e 84,5% por homens. 

Foram analisados 142 longas-metragens brasileiros de animação (1), documentário (44) e ficção (97), de caráter comerciais lançados em salas de cinema em 2016. Foram considerados dados do Sistema de Acompanhamento e Distribuição em Salas de Exibição (SADIS). As produções foram analisadas segundo critérios de identidade de gênero (masculino e feminino) e raça/cor (segundo classificação do IBGE) nas funções de direção, roteiro, produção executiva, elenco, direção de fotografia e direção de arte.

O panorama também foi traçado pela Agência a partir de dados sobre a baixa representação feminina no setor durante o Rio Content Market 2017, evento que tem se tornado referência no setor audiovisual na América Latina. Na opinião da cineasta e jornalista Ceci Alves, esta é uma questão de dar voz e lugar de fala às mulheres. “Se não tem diretoras ou roteiristas, não tem histórias contadas do ponto de vista da mulher, e isso é muito maquiavélico e grave. Faz parte da velha estrutura de subalternização que precisamos romper”, destaca.

Entre as produções transmitidas na televisão por assinatura em 2017, apenas 15% dos tiveram uma mulher como diretora. O percentual é considerado especialmente baixo quando comparado ao índice de mulheres que que fazem a graduação em cursos de audiovisual (53%) e que ocupam postos de trabalho formais em produtoras (52%). Os dados apontam também que apenas 79% das obras exibidas foram dirigidas por homens e 6%, por direção mista. Não houve produção com direção exclusivamente femininas.

Recentemente, a Agência Nacional do Cinema anunciou o Concurso Produção para Cinema 2018, uma das ações que visam fomentar a produção audiovisual brasileira e que prevê o suporte de R$ 100 milhões às produções de longas-metragens independentes de animação, documentário ou animação. Diante do diagnóstico da disparidade existente na produção audiovisual brasileira, o comitê gestor do Fundo Setorial de Audiovisual anunciou que ao menos 35% do valor será destinado a “projetos audiovisuais [...] dirigidos por mulheres cisgênero ou mulheres transexuais/travestis” e ao menos 10% àqueles dirigidos por pessoas negras e índias.

Na visão de Ceci Alves, este é um passo inicial rumo à equidade no ramo de produção audiovisual, embora ainda seja necessário fazer muito mais. “Nós, mulheres, ainda precisamos compreender este cenário desfavorável, preencher espaços, conquistar e deixar de depender da boa vontade de governos. [Precisamos] nos unir e partir para a luta”, destaca a cineasta.  Entre as sugestões dadas está a necessidade de ouvir a sociedade civil organizada, a classe do gênero feminino e entender suas necessidades, suas privações e especificidades a fim de promover o diálogo importante para a construção de políticas públicas.

Produção audiovisual no Brasil

A pesquisa “Diversidade de Gênero e Raça nos Lançamentos Brasileiros de 2016” apontou ainda que o Sudeste foi responsável por cerca de 80% da produção audiovisual. O Nordeste – região onde nasceu Glauber Rocha, um dos maiores cineastas do Brasil e do mundo – apareceu em segundo lugar, com apenas 11% da produção. Com relação à Bahia, há estímulos para o desenvolvimento do setor, comenta Ceci, mas muito ainda deve ser feito. “Precisamos escoar e dar visibilidade às nossas histórias e almejarmos contá-las não só artística, mas comercialmente, em pé de igualdade com a produção feita no eixo Rio-São Paulo”, finaliza.

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