Entretenimento

1 26/08/2016 15:10

Nem o frio coração de Saruê (Antonio Fagundes) suportou testemunhar o sofrimento de Tereza (Camila Pitanga) por Santo (Domingos Montagner), em “Velho Chico”. Um primeiro sinal da redenção do coronel? Fagundes aposta que sim: "Benedito (Ruy Barbosa, autor) dificilmente cria vilões. Nas novelas dele, aquele que aparentemente é um vilão tem seu rasgo de humanidade e faz você pensar nas razões daquele personagem. Então o Afrânio, que sempre teve dentro dele uma vontade ferrenha de manter a família unida, pode mostrar um outro lado".

Com relação à resistência do público a um Saruê mais caricato do que o aventureiro de Rodrigo Santoro na primeira fase, o veterano esclarece: "Nos 30 anos que se passaram, ele teve uma série de problemas e criou uma casca, inclusive física, com um comportamento patético, exagerado, uma peruca. É uma forma de se disfarçar. Mas dentro da máscara existe um Afrânio que ele gostaria de ter sido e foi impedido".

O coronel, segundo ele, é o retrato da política atual: "Esse personagem a gente viu no dia 17 de abril (na votação de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff). Centenas de “Afrânios” com o mesmo tipo de roupa, o jeito de falar, cabelo acaju... Talvez agora nessa caricatura que o Afrânio fez de si mesmo, a gente consiga entender que esses caras estão no poder".

O ritmo mais lento da trama é outro ponto que causou estranhamento no espectador: "Tudo o que é diferente cria um transtorno porque dá trabalho. É preciso sair da zona de conforto e parar para ver o outro. Isso está acontecendo com a novela. As pessoas relaxaram e estão percebendo que é bom ver uma cena com calma, um personagem vestido de forma que você não vê normalmente, que a fotografia mostre uma montanha e não só prédios, que a realidade daquelas pessoas seja diferente". E Fagundes avisa que o cabelo “estilo Donald Trump” está com os dias contados: "Ele vai tirar essa peruca!".

Sem medo da solidão

Antonio Fagundes, que se intitula um “analfabyte”, não mede a popularidade de seu trabalho pelas redes sociais. "A rua não mente. Quando você sai e as pessoas gritam seu nome ou o do personagem, é porque alguma coisa está acontecendo. Talvez essa manifestação seja até melhor do que a da Internet, porque não tem tanto “hater” (pessoa que odeia)", compara o artista, que ao contrário do coronel, não teme a solidão: "Ser solitário é optar por isso. A solidão é mais grave porque é imposta. Mas não tenho medo porque, pelo menos, os meus quatro filhos eu sei que vou ter ao meu lado. E acho uma delícia não ser reconhecido quando viajo. É imprescindível a privacidade. O anonimato é criativo, você pode fazer coisas sem ser cobrado, pode errar. A partir do momento que você não é mais anônimo, a vida fica mais pesada".

O GLOBO

Rua Tiradentes, 30 – 4-º Andar – Edf. São Francisco – Centro - Santo Antônio de Jesus/BA. CEP: 44.571-115
Tel.: (75) 3631-2677 - A Força da Comunicação.
© 2010 - RBR Notícias - Todos os direitos reservados.